Editorial
Fátima é terra abençoada, diz tanta gente! Direi que também parece enguiçada. Não é frequente usar-se esta palavra, só em determinadas circunstâncias de dificuldade, provocada por uma má influência, que se encontra prejudicada ou danificada, sem saber-se muito bem como ultrapassar essa dificuldade, sem conseguir encontrar o caminho para os seus objectivos. Na verdade, a tudo isto temos chamado sazonalidade, como se funcionasse com as estações do ano, ora calor, ora frio, ora chuva, ora sol, num círculo sem saída. Chega-se a Abril e estamos todos à espera do Verão para receber os peregrinos e os turistas, sem outros atractivos além dos religiosos. Nessas alturas anda tudo com pressa e não temos mãos a medir para satisfazer às variadíssimas necessidades que apresentam os visitantes. Sim, a multidão chega em Maio e estende-se até Outubro. Nos outros meses definhamos de visitas, de proventos, de trabalhos. Muitos assalariados gozam nesses meses vazios as suas férias, outros ficam sem emprego nessa curva do ano. Salvam-nos o Carnaval e a Páscoa para minimizar este frio gélido das incertezas da vida social e económica, cultural e religiosa. Quem vem quebrar este enguiço? Não tenhamos ilusões: uma pessoa, ou instituição, seja ela de que cariz for, não conseguirá romper o círculo. A experiência mostra-nos esta evidência. Fátima perde constantemente a sua capacidade de liderança, atrofia-se em egoísmos mesquinhos, simpatias grupais, interesses duvidosos, na sua organização e nas suas estruturas. Já que temos já entrada na Primavera e se perfilam dias bonitos de sol, um renascimento colectivo impõe-se, urge! Iniciativas comuns, variadas, com o apoio de quem de direito e que raramente chega. Feiras, espectáculos, actividades formativas, sessões desportivas, folclore... importa colocar Fátima no patamar que é o seu! Que brilhe a luz! Quebremos, em comunidade, este enguiço!
Rui Marto