Editorial
Nalguns lugares e circunstâncias, para desatar, para início de conversa, vem à baila o tempo; “está muito calor”, “tá fresco”, “e não vem chuva... como se tudo pudesse ser resumido: “falemos do tempo!”. Severamente, não vemos bons auspícios para o tempo, pois a cada vez maior falta de água, os glaciares a derreter... um corolário de estreitos em que nos estamos a meter, sucedem-se os conflitos, as lutas de interesses, a fome a alastrar nas pessoas e nos animais, a guerra e a miséria... Em 2024, no próximo Inverno, celebram-se 70 anos (1954) em que o sobejamente conhecido “Abbé Pierre” acendeu o rastilho da guerra contra a miséria. Naquele ano negro, o Padre Henri Grouès, nascido em 1912, como deputado na nação francesa, inicia o grande combate contra a miséria dos seus concidadãos. Fiel ao combate para que cada família tenha uma casa, cada cidadão tenha onde abrigar-se ao menos durante o Inverno, foi o Abbé Pierre, fiel até morrer em 2007. A sua atenção aos mais pobres, a força da sua convicção, iluminam caminho tão espinhoso, mas tão carregado de esperança, para os mais pobres. Dizia ele: “O mundo transforma-se cada vez que partilhamos”, “Fazer com que sejam servidos em todo o lado, em primeiro lugar, os que mais sofrem”, “É preciso que cada um coloque os seus dons, os seus talentos, as suas capacidades, ao serviço de todos, num espírito fraterno”. Metas tão bonitas para se viver melhor, a chave do futuro num mundo de desencantos, a procura de lugar para todos e cada um. Neste momento trágico e de terror, em que o poder das mudanças está nas armas, é mais rentável largar as armas e partilhar, com as mãos, repletas de bens, e distribuir para construir, edificar. E todos podemos partilhar, em espírito fraterno. Todos receberemos, muito, muito mais!
Rui Marto
