Editorial
As celebrações do “25 de abril” acontecem no âmbito de comentários e interpretações as mais variadas. Uns, procuramos sempre algo de novo, outros, gostamos de saber confirmados os nossos pontos de vista, mais ou menos lacónicos, mais ou menos eruditos, na espectativa de um contributo ajustado e profícuo aos vindouros. Cansados do “já dito”, do “já recordado”, do “já visto”, corremos o risco de não celebrarmos nada, se alguma vez houve vontade disso. A sociedade portuguesa, envelhecida de 50 anos, de filhos e netos já adultos, procura adaptar-se, como sempre o fez, nas contrariedades, nos sobressaltos, nas larguezas e estreitezas da liberdade. Alguma histeria em todos os tempos, no querer tudo e já, pois é direito adquirido, através do ruído, da movimentação de massas sem cabeça, enquanto alguns, de pés bem assentes na terra e o olhar fixo nas estrelas foram abrindo brechas no muro da opressão, da ignorância e do futuro. Parece que o “25 de abril” não se contenta com estar sozinho, apela o seu parceiro de calendário para equilibrar a rotação da terra à volta do sol, o “25 de novembro”. Com idas e vindas, foi importante, era premente, acabar com guerra, como o é também hoje. Foi necessário ato de muita coragem e grande visão do futuro, para fazer regressar os que empunhavam as armas, os jovens, obrigados a servir a guerra e deixar a nossa terra. Estes jovens, chamados à transformação da nossa sociedade, são o motor da humanização necessária. Estes jovens, nossos filhos e netos, estão sem casa e sem esperança de a ter... nem antes nem agora; estão sem filhos e sem vontade de os ter; os que os têm passam autênticas peripécias para os manter em vida, digna. Não! Não acredito que o “25 de abril” tenha sido fracasso, nem que os poetas não tenham visto bem longe! Cuido de saber por onde anda a energia inicial, por onde se esconde ou escoa tanta vontade e tanto desejo de uma sociedade digna, humana, de todos e de cada um.
Rui Marto