Editorial
Um verdadeiro “bicho de sete cabeças” a aproximação ao filósofo. No imaginário de muitos de nós assim é, alguém num patamar inatingível, superior às nossas capacidades, o desconhecido. Depois percebemos que é um amigo da sabedoria, mais que conhecedor. E por ser amigo, torna-se cada vez mais amigo, mais próximo da realidade, mais experimentado, esperto. E como amigo do meu amigo, meu amigo é, o filósofo aproxima-se ainda mais das coisas, das pessoas, dos tempos, e até convive, “vive” mais além, mais dentro. Sempre como amigo, nunca possuindo, mas sempre menos de si, mais com os outros. Tive a sorte de conhecer pessoalmente, de escutar, de ler, deliciar-me com a pessoa e a obra de Paul Ricoeur (1913-2005). Nos últimos tempos quis debruçar-se sobre o sentido das pessoas em migração, o estrangeiro e o estranho, quem as acolhe e quem as enfrenta, sobre o viver e construir em conjunto, as aldeias desertas e as cidades-mundos e as responsabilidades assumidas. Diz, mais ou menos com estas palavras: “é preciso que cada cidadão saiba que a grande cidade é frágil, que repousa sobre uma linha horizontal constitutiva do querer-viver-em conjunto”. Na construção da cidadania, na identificação na “cidade”, no progredir ou no estagnar, há a fragilidade e nela o querer, o viver, o em comunidade. Exigência de um saber pensado, aproximado, querido por cada cidadão. Uma meta a atingir, entre outras, em que é imprescindível a vontade, o cuidado, a ternura, a procura, a confiança... é frágil!