Notícias de Fátima
Sociedade Religião Lazer Educação Desporto Política Opinião Entrevistas Como Colaborar Contactos úteis Agenda Paróquia de Fátima Ofertas de Emprego
PUB
Home Entrevistas Questionário de Proust “O 25 de Abril foi um tempo inesquecível”

Questionário de Proust “O 25 de Abril foi um tempo inesquecível”

11-04-2024
Para Maria Helena Fernandes, a felicidade plena não existe. Existem momentos de “grande felicidade”. E teve a sorte de ter vivido alguns. Um deles foi ter presenciado de perto o 25 de Abril de 1974. Na altura, estava a estudar em Lisboa e, apesar dos apelos para ficar em casa, não resistiu. Nem ela nem a sua senhoria (esposa de um militar, presa e torturada várias vezes pela PIDE - os dois filhos mais velhos nasceram na prisão).

As duas mulheres acompanharam a evolução dos acontecimentos a partir de casa, na Rua das Enfermeiras da Grande Guerra, em Lisboa. Através da janela, viram passar os chaimites em direcção ao Quartel da Penha de França. Depois de almoçarem, a D. Marquinhas (assim se chamava a senhoria) disse-lhe: “Eu não aguento estar aqui, vamos para a rua”. “E viemos! Acabei por chegar ao Quartel do Carmo um pouco antes da libertação”, recorda Maria Helena. E acrescenta: “Há uma imagem [fotográfica] que tem uma árvore grande com pessoas lá penduradas, eu digo aos meus filhos: Eu estava ali. Não sei qual sou, mas estava ali. Acabei por assistir a tudo”. Não só no “Dia D”, mas nos dias que se seguiram à revolução. “Quando cheguei ao 1º de Maio, já não podia calçar uns sapatos. Fui para a manifestação com uns chinelos de quarto. Eu andei sempre, sempre, sempre, na rua. Eu sei lá… fui para as manifestações, fui no comboio para o Porto, fui no comboio para Sintra, fui à saída dos presos políticos - foi aí que vi o Sérgio Ribeiro [antigo preso político natural de Ourém]. Vivi tudo aquilo intensamente. Não tem explicação. A minha neta mais velha [tem 10 anos] diz: ‘Avó, tu falas do 25 de Abril de tal maneira que nós não estando lá, estamos a viver com a mesma alegria que tu estás a viver”. A propósito do 25 de Abril, também conhecida por Revolução dos Cravos, Maria Helena conta que já foi homenageada várias vezes e, nessas ocasiões, leva sempre um cravo vermelho. “É a minha marca”, afirma. E acrescenta: “Eu sou uma aguerrida, sou muito feliz por ter vivido aqueles dias”. Todos os anos celebra o 25 de Abril e, este ano, em que se assinalam os 50 anos da revolução, não vai ser excepção. Ainda não sabe onde vai passar o dia, mas uma coisa é certa: vai comprar cravos vermelhos, vai vestir a roupa que mais gosta e vai ver o mar, ou então, vai visitar o Quartel do Carmo. E de preferência, na companhia dos netos. E ainda não sabe se vai usar o “casaco da revolução”, como lhe chamam os filhos. Maria Helena guarda “religiosamente” o casaco que comprou na extinta loja “Naia”, na Rua do Carmo, em Lisboa, no dia 24 de Abril. “Foi a última peça que eu comprei no tempo da ditadura. Custou-me 850 escudos”, recorda, referindo que, na altura, era muito dinheiro. Julga que ainda lhe serve, agora que está mais magra. Em 2019/2020, sobreviveu a um cancro, tendo estado 45 dias em estado de coma, na sequência de uma infecção hospitalar. No IPO, em Lisboa, tratam-na carinhosamente por o “Milagre de Fátima”. Apesar da veia revolucionária, é uma mulher de fé e acredita que, além da equipa médica fantástica que a acompanhou, a sua recuperação só foi possível graças à “mão divina” e à sua alegria de viver. Tem na família o seu maior tesouro – tem três filhos e quatro netos, que “são a alegria lá de casa”. Profissionalmente, considera-se uma “pessoa muito realizada”, porque fez tantas coisas, deu aulas de tantas coisas, os seus alunos são os seus médicos, passam por ela e dizem: “Oh professora, dê-me um beijinho…” “Isto é bom! Eu devo ter deixado alguma coisa no coração desta gente. Eu costumo dizer à minha Rita [neta]: O professor, além de transmitir conhecimento, também deve transmitir valores, deve ensinar a viver e a conviver. Foi assim que eu fiz ao longo da vida”. Perante uma vida tão preenchida, da qual se orgulha, só lamenta uma coisa: não ter seguido Medicina. Foi admitida em Coimbra, mas deixou-se levar pela conversa da sua mãe e acabou por desistir. Mas confessa: “Tenho a impressão que daria uma belíssima médica porque eu gosto muito de ajudar o próximo”. É caso para dizer: perdeu-se uma belíssima médica, mas ganhou-se uma belíssima professora! 

 

Notícias de Fátima (NF) - Qual é a sua ideia de felicidade plena?

Maria Helena Fernandes (MHF) – Há momentos de grande felicidade, mas, para mim, não há felicidade plena.

NF - Qual é o seu maior medo?

MHF – Eu tenho dois medos. Primeiro, tenho muito medo da guerra e, depois, tenho medo das cobras [risos].

NF - Qual é a característica que mais detesta em si mesmo?

MHF – Tenho a mania do perfeccionismo. Quando faço uma coisa quero que fique perfeita – à minha maneira, tanto é que há coisas que eu não cedo a ninguém, como fazer pão.  

 

Leia a notícia completa na edição impressa do Noticias de Fátima no dia 12 de abril de 2024.

Como colaborar | Notícias de Fátima (noticiasdefatima.pt)