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Sociedade Americana de Nematologia distingue investigador fatimense

23-11-2019
Paulo Vieira foi distinguido com o Prémio Syngenta, atribuído pela Society of Nematology dos Estados Unidos da América (EUA), juntamente com a companhia Syngenta. O investigador, de 42 anos, natural do Moimento, freguesia de Fátima, mostra-se "muito lisonjeado" por ter sido distinguido por "uma das mais prestigiadas sociedades científicas" dos EUA, onde se encontra a trabalhar, em colaboração com as universidades de Évora e de Coimbra. Segundo as suas palavras, "receber um prémio por parte desta sociedade é sempre um momento de orgulho na carreira de um investigador". Paulo Vieira completou o ensino secundário no Centro de Estudos de Fátima (CEF) e formou-se em Biologia na Universidade de Évora. Foi nessa altura que surgiu o seu interesse pela Nematologia. "Eu sempre gostei de temas ligados à Biologia, e depois de participar em alguns projectos nesta área, acho que ficou mais claro que eu poderia desenvolver a minha carreira de investigação na área da Nematologia", afirma. O investigador esteve recentemente em Portugal para uns dias de férias e disponibilizou-se para responder a algumas perguntas sobre o seu trabalho.

A Nematologia é uma área muito específica. Como é que surgiu o seu interesse por esta área e, em termos práticos, quais são os efeitos da sua investigação? 

O meu interesse na Nematologia surgiu durante a minha licenciatura em Biologia, na Universidade de Évora. Foi lá que comecei efectivamente a trabalhar com nemátodes durante o estágio da licenciatura, e mais tarde durante o meu mestrado. Desde dessa altura, a minha investigação tem-se focado essencialmente no estudo de nemátodes parasitas de plantas, e em variados temas. Durante o projecto do meu mestrado, o meu trabalho incidiu essencialmente no estudo do nemátode da madeira do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus), e a taxonomia deste grupo. Como se tratava de uma espécie economicamente importante devido aos efeitos nefastos que causa em florestas de coníferas (especialmente no pinheiro bravo em Portugal), achei que seria interessante e importante direccionar os meus estudos neste tema. Mais tarde, quando fiz o meu doutoramento na Universidade de Nice, em França, comecei por focar a minha investigação na interacção molecular entre nemátodes fitoparasitas e os seus hospedeiros, nomeadamente no nemátode das galhas-radiculares (Meloidogyne incognita). Ultimamente, os meus trabalhos focam-se na interacção do nemátode das lesões-radiculares (Pratylenchus penetrans), e a sua interacção molecular com diferentes plantas (e.g. flores de corte, batata, soja e luzerna).

Como é que surgiu a oportunidade de ir trabalhar para os EUA? Custou-lhe deixar Portugal?
Eu já tinha estado nos EUA por diversas vezes em trabalho (curtos períodos de tempo), ou trabalhado em projectos que envolviam outras equipas dos EUA. E desde sempre foi um país que eu tinha em consideração para um dia continuar parte da minha investigação. Contudo, a minha ida efectiva para os EUA surgiu devido a motivos pessoais, uma vez que a minha mulher é americana. Obviamente que emigrar para um país longe da família, e dos amigos, é sempre emocionalmente difícil, mas hoje em dia com toda a tecnologia que temos disponível fica um pouco mais fácil lidar com essa distância.

Até quando é que vai continuar nos EUA? Vai continuar a trabalhar nesta área? 
Não sei mesmo responder a essa pergunta! Sim, o meu objectivo passa por continuar a trabalhar nesta área, e em projectos internacionais com equipas de outros países, incluindo equipas de Portugal. Neste momento estou a iniciar um novo projecto para os próximos dois anos, e a ideia é utilizar os resultados obtidos para obter financiamento adicional para o estudo de nemátodes parasitas de plantas economicamente importantes.

Um dia espera voltar a trabalhar em Portugal? 
Claro que sim. Apesar de estar neste momento nos EUA, eu continuo a trabalhar em colaboração com equipas da Universidade de Évora e da Universidade de Coimbra. E a minha ideia é continuar a colaborar com esses laboratórios, ou outros projectos que entretanto surjam.


É fácil fazer investigação em Portugal?
Fazer investigação é exigente em qualquer parte o mundo, e Portugal não é excepção. Talvez a parte mais difícil em Portugal seja o acesso a recursos financeiros para a execução de algumas tarefas.


Este prémio vai abrir-lhe novas "portas"?
Tal como mencionei anteriormente, receber um prémio por parte desta sociedade é sempre um momento de orgulho e um reconhecimento importante na carreira de um investigador.


Quais são os seus projectos para o futuro?
Um dos temas que me fascina nesta área é a forma como estes animas microscópicos (a maior parte destas espécies são inferiores a 1 mm de comprimento) conseguem induzir doenças, e em alguns dos casos, utilizarem as células da planta como autênticas “fábricas de produção de alimentos”, como é o caso do nemátode das galhas-radiculares. A maioria destes nemátodes fitoparasitas têm células especializas (a que chamamos de “glândulas esofágicas”) responsáveis pela produção de proteínas que o nemátode secreta durante a interação com a planta, e que lhes permite parasitarem a planta, e desenvolver até completarem o seu ciclo de vida. Muitas dessas proteínas são totalmente novas para a ciência, e com função desconhecida. O estudo desse(a)s genes/proteínas permitirá saber qual a sua função e importância, e serem potencialmente utilizadas como alvo para o desenvolvimento de novas medidas de controlo para este tipo de parasitas de plantas.