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Jorge Perfeito

8 de maio, 2020

Olhar de Frente — Ver Diferente (A Pandemia e a Abstracção dos Números

Quando em 19 de Março se noticiou a primeira vítima fatal do Covid‑19, o país ficou em suspenso e ficou a saber tudo sobre a pessoa. Quem era, de onde era, que idade tinha, família e amigos, etc. A partir daí, nos dias e semanas que se seguiram, habituámo‑nos aos números em abstracto dos mortos e infectados, que foram crescendo de forma exponencial, e reduzindo depois, em resultado das medidas de limitação impostas. Foi assim um pouco por todo o mundo. No domínio da estatística deixamos de ser e passamos a mera abstracção. Depois da questão sanitária, passamos aos números da questão económica e financeira ao nível global e para a qual deverá arranjar‑se uma solução também a nível global.

 

Nos anos que virão, investigadores e cientistas de todas as áreas, irão pegar nestes dados e números, para os analisarem e ensaiarem uma explicação para tudo o que se passou. É necessário algum distanciamento temporal, por uma questão de enquadramento e perspectiva no rigor da análise.

 

Imensas dúvidas e questões se suscitam. Este vírus espalhou‑se muito rapidamente de forma diferenciada, sequencial e selectiva por certos países. Alastrou pela Europa, depois do Reino Unido ter saído da UE (Brexit), e atingiu primeiramente os países mais endividados, taxas populacionais muito envelhecidas, altas taxas de consumo, politicamente desequilibrados e com a democracia em perigo (Itália, Espanha, e mesmo França). Logo se seguida propagou‑se de forma acelerada e abismal pelas Américas do Norte e do Sul, com idênticos problemas institucionais e políticos. Meras coincidências? Embora em tempos diferentes, todos tomaram as mesmas medidas. Como explicar tão diferentes resultados? Como e porquê, se a informação era a mesma e circulou de idêntica maneira para todos? Que explicações para tantos erros e contradições, desde as recomendações quanto à obrigatoriedade ou não do uso de máscaras e viseiras, até à constatação de que o vírus afectava maioritariamente os idosos, ou pessoas mais vulneráveis, decorrentes de determinadas patologias debilitantes, para depois se concluir que pode afectar e fulminar todos por igual? Que se dava bem com temperaturas baixas e deixaria de constituir perigo a partir do Verão, com o tempo quente, para depois, afinal, virem dizer que temos de aprender a conviver com ele por mais de um ano até estar pronta uma vacina?

 

Quais as ilações e consequências a retirar de tudo isto? Não apenas da questão sanitária, económica, financeira, dos mercados ‑ da sociedade de consumo em que vivemos há dois séculos ‑, mas ao nível planetário? Quantos ficaram infectados e quantos pereceram? Qual a redução ao nível da sinistralidade rodoviária – que é outra pandemia ‑, derivado da abrupta diminuição do tráfego, quer ao nível da mortalidade, quer ao nível de feridos graves e incapacitados? E em outro tipo de transportes, designadamente aéreos? Quais as consequências e vantagens ao nível ambiental e ecológico? Qual a redução de CO2 na atmosfera? Quais os benefícios relativamente ao ar que respiramos, dos solos e da agricultura, mares e as pescas? Em que é que tudo isto vai influenciar a nossa qualidade de vida? Um planeta mais saudável, investindo nas energias limpas, renováveis e praticamente inesgotáveis, ou continuarmos num consumo exagerado, esgotando as energias fósseis e altamente poluentes, até se esgotarem completamente e levarem a uma extinção em massa? Tudo questões a que teremos de prestar a devida atenção. Certo, é que teremos de nos reeducar para o futuro que se avizinha.

 

Boa quinzena e bom desconfinamento.

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