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Jorge Perfeito

5 de junho, 2020

Olhar de Frente — Ver Diferente (Pensar o Futuro no Novo Normal)

Para lá da controversa pandemia e do desconfinamento, sem se saber ainda de onde e como surgiu este vírus, os resultados estão à vista, de novo dependentes de balões de oxigénio, das avultadas verbas a fundo perdido da União Europeia, para colmatar os prejuízos sofridos. Só que desta vez a crise tem uma dimensão global e transnacional, em que todos os sectores e todos os estados foram duramente penalizados.

 

No que toca a Fátima, as consequências são desastrosas. Para este ano, o estrago está feito. Numa terra pequena, completamente dependente dos peregrinos e turistas que são o sustentáculo dos hotéis, dos restaurantes, do pequeno comércio, e de centenas de empregos, a situação é catastrófica. Ainda para mais, se considerarmos que as nossas taxas de ocupação nunca vão muito além dos 35% anuais (sendo optimista), com um nicho de mercado que obriga à prática de preços médios e baixos, sem descurar um mínimo de qualidade, o sector sofre um aperto de vários furos no cinto. Todo o sector económico, comercial e financeiro foi afectado. Mas poderiam ter‑se verificado resultados bem piores se as medidas tomadas se tivessem atrasado escassas duas semanas. Se como estamos habituados, tivéssemos recebido a visita a dos nossos irmãos e vizinhos espanhóis na semana santa, a par do começo da época das grandes peregrinações, as consequências pandémicas iriam ter uma dimensão certamente trágica e devastadora, com um surto impossível de controlar.

 

Fátima é pequena, carece de todo o tipo de infraestruturas, mormente ao nível sanitário, sem a mínima preparação para enfrentar este tipo de situações de calamidade. Tal nos deveria levar a equacionar muita coisa a partir de agora. Se até aqui, a discussão sobre a criação do concelho e sua viabilidade, era uma questão formal e simples, facilmente resolúvel em menos de meia dúzia de anos, contanto houvesse vontade política, agora mais do que nunca devemos colocar a questão bem visível nos nossos horizontes, mas contemplando projectos muito mais ambiciosos para dezenas de anos.

 

Deveríamos começar a perguntar‑nos: haverá vantagem em prosseguir este tipo de políticas, de crescimento urbanístico excessivo, especulativo, denso, e tremendamente desordenado; do comércio de artigos religiosos e da restauração e hotelaria, em regime de quase exclusividade e colocando os ovos todos no mesmo cesto? Que políticas poderão ser desenvolvidas no futuro, para alcançarmos o que tanta falta faz à cidade e na comunidade?

 

Pensar as questões do ambiente e do ordenamento, da saúde, da educação, dotar Fátima de ensino público ‑ questão desde sempre ignorada, desvalorizada, negligenciada. Pensar e desenvolver esforços para um pólo de ensino médio‑superior ‑ mediante protocolo com o Instituto Politécnico de Leiria ‑, em que seria interessantíssimo explorar a vertente da gestão turística e hoteleira, entre outros no futuro. E assim estimular e consolidar o mercado do arrendamento, a criação de empresas, indústrias, etc. Termos hospital, comarca, finanças, termos todo o tipo de logística e serviços inerentes ao desenvolvimento e gestão do futuro município, para responder às necessidades da população residente e dos que nos visitam, com especial atenção aos jovens para que aqui permaneçam, e outros se fixem, inovando e dinamizando os seus projectos e actividades em todos os sectores em prol do desenvolvimento da terra. Mais do que meras sugestões, toda uma série de desafios a se projectarem nas próximas décadas. Mas não são esses desafios, nem essas vontades, que vislumbramos nas cabeças e mentalidades dos nossos políticos, sendo manifesta a sua absoluta falta de visão no sentido de projectarem Fátima no futuro.

 

A pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas, seria interessante reflectirmos sobre estes e outros temas, porque o futuro não espera por nós, estará sempre para além de nós. Nós é que temos de o alcançar.

 

Tenham uma boa quinzena e cuidem‑se.

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