Notícias de Fátima
Sociedade Religião Lazer Educação Desporto Política Opinião Entrevistas Como Colaborar Contactos úteis Agenda Paróquia de Fátima Ofertas de Emprego
PUB

José Poças

1 de abril, 2022

Algumas reflexões primaveris

Chegou a Primavera e pelos vistos nada mudou. A crise humanitária estende-se agora à própria Europa, a União Europeia está também ela a tentar lutar por manter a sua identidade, a ONU é um morto vivo a quem ninguém liga (pobre Guterres) e a economia mundial pode provocar, em breve, grandes dissabores. Neste clima de nuvens carregadas que ameaçam tempestade, permitam-me algumas reflexões.

 

No livro “As Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift, existe um país - Houyhnhnms - governado por cavalos inteligentes e civilizados que desconhecem a palavra mentira. Chamam-lhe «dizer aquilo que não é». A invasão da Ucrânia foi baseada num desejo de “desnazificação e de libertação do povo”, segundo Putin. E há ainda quem acredite também, para além deste «dizer aquilo que não é», que a Rússia não iniciou uma  guerra, tratando-se apenas de uma simples "Operação Militar Especial". Que saudade que eu tenho das manifestações das organizações que defendem os direitos humanos dos palestinianos e de outros povos oprimidos, dos povos subjugados pelo imperialismo, etc, etc. Agora, como se trata da invasão da Ucrânia pela Rússia, com imensas baixas civis, destruição de cidades e mais de 3 milhões de refugiados, nem uma palavrinha dura, nem uma manifestaçãozinha frente à embaixada da Rússia, nada… Pelos vistos a retórica a favor dos direitos humanos dos povos tem ideologias que distinguem “os bons dos maus”…

 

E já que estamos a falar da guerra da Ucrânia , apareceram por aí os politicamente correctos a tentar banir a leitura dos autores clássicos russos. Para esses pobres ignorantes, nada melhor que uma frase do grande Leon Tolstoi que infelizmente se adapta a estes tempos conturbados, “há quem atravesse o bosque e veja apenas lenha para o fogo.”

 

Um tema muito discutido há uns anos, volta novamente à ribalta – Qual é o verdadeiro poder da imprensa, nomeadamente a televisiva?  Em 1997, uma frase dita por Emídio Rangel, então na liderança editorial da SIC, escandalizou a opinião pública.  "Uma estação que tem 50% de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de Presidente da República para aqui, outro bocado para acolá, outro bocado para acolá, vende tudo! Vende sabonetes!"

 

Esta insinuação de que uma televisão pode promover e orientar o sentido de voto dos portugueses é, na minha opinião, verdadeira. E perigosa. Estou farto de dizer que o Bloco de Esquerda tem tido resultados eleitorais muito à custa dos tempos de antena exagerados que lhe são disponibilizados.

 

O certo é que a televisão nos vai impondo “modas”. Todos se lembram, ainda há pouco tempo, das reportagens sobre os refugiados da guerra da Síria que viviam em tendas improvisadas, sem o mínimo de condições, na Turquia e na Grécia. Todos se lembram dos barcos de emigrantes que tentavam entrar na Europa e dos relatos trágicos de mortes, devido ao afundamento das frágeis embarcações. E, mais recentemente, todos se lembram por certo do espaço que ocupava a COVID nos telejornais, com reportagens extensíssimas e alarmantes. O curioso é que parece que agora já não há campos de refugiados, nem emigrantes que tentam chegar à Europa de barco, nem COVID.

 

Ah, a propósito, podemos ter o gasóleo e a gasolina mais cara da Europa (ou lá perto), pode aumentar significativamente o preço dos produtos básicos de consumo, que vão afectar a economia já débil de milhares de famílias, mas o que verdadeiramente interessa é que fomos apurados para o Mundial de Futebol no Quatar. Que orgulho viver neste Portugal desportivo, onde até os políticos são comentadores residentes na televisão, discutindo até à exaustão todas as jogadas, semana após semana. Quanto ao mundo real, aos problemas e resolução do nosso atribulado dia a dia … isso pode esperar.

Últimas Opiniões de José Poças