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José Poças

17 de dezembro, 2020

E porque, apesar de tudo, é Natal

No dia 17 de Dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, quase coincidindo com o dia em que comemoramos o nascimento de Jesus. O 266.º Papa da Igreja Católica, primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos, adoptou o nome de Francisco, homenageando assim o Santo de Assis. É bom recordar que a ideia do Presépio foi concebida por este mesmo São Francisco de Assis. Quando visitou Belém, em 1220, a forma como o Natal era celebrado na Terra Santa impressionou‑o tanto que decidiu recriá‑lo. Em 1223, em Greccio (Itália), com autorização do Papa Honório, encenou ao vivo o nascimento de Jesus, com figuras humanas e animais. Tratou‑se, na altura, de uma autêntica revolução na teologia cristã, já que Cristo deixou de ser representado apenas como Glorioso e passou também a ser adorado como o Jesus menino, pobre, “nas palhinhas deitado”. No ano seguinte, construiu uma manjedoura numa cave, colocou a imagem de pedra do Menino Jesus dentro dela e rodeou‑a de animais verdadeiros.

 

Este ano a pandemia tomou conta das nossas vidas e nesta época natalícia em que costumamos abrir o caixote das recordações e a gaveta dos afectos sentimos, com particular sensibilidade, a falta que nos faz o mundo dos pequenos gestos e dos abraços daqueles que nos são próximos. Citando José Tolentino Mendonça, “a pandemia tem forçado a muitos ‘lutos relacionais’: desde a suspensão das práticas comunitárias ao reforçado isolamento dos mais idosos”, sem contar com aqueles que, infelizmente, nos vão deixando e deixam vazio o seu lugar, insubstituível, na mesa da ceia do Natal. 

 

Já há alguns anos, o cardeal Paul Poupard que foi presidente do Conselho Pontifício para a Cultura referia a “gramática do Zapping”, em que se vivia apenas o imediato, deixando de lado as grandes questões da vida. Para ele, o homem moderno era um pouco o viajante cheio de coisas e desprovido de bagagens, sem a percepção da bagagem essencial,
necessária à sua vida. 

 

Ganham assim especial sentido duas iniciativas natalícias. Um dos lemas da Comunidade Vida e Paz é “reconstruir sentidos de vida”. Não poderia portanto de deixar de louvar a iniciativa de presentear Fátima com a construção de um presépio, de grandes dimensões, na Avenida D. José Alves Correia da Silva. Nesta época em que tanto se celebra a fraternidade humana, temos aqui um exemplo vivo desta mensagem, neste presépio que foi construído por utentes e funcionários dessa instituição, com o apoio da Junta de Freguesia de Fátima e do Município de Ourém.

 

Também é notório o esforço  da Câmara Municipal em dignificar esta quadra natalícia, não só com uma nova iluminação na nossa cidade, alusiva à época que atravessamos, mas também com uma interessante programação cultural online, Natal Cultural 2020.

 

É nestas alturas de crise pandémica que também nos deveríamos aperceber que o Natal não deveria ter prazo de validade. Se estamos a celebrar o nascimento do Salvador, significa que estamos a comemorar um início, não uma data com fim marcado mas sim o começo de uma vida diferente, condicionada pela pandemia, é certo, mas com uma
esperança imensa no futuro.

 

E assim regresso sempre a Nuno Lobo Antunes e a uma passagem lindíssima do seu livro Sinto Muito: “Naquele tempo … quando o menino Jesus era meu parente, (assim eu o sentia), o mundo girava em torno de uma manjedoura, onde crianças e animais se confundiam no mesmo olhar inocente, no mesmo bafo cálido que aquecia o corpo e a alma… Todos os anos o mesmo mistério, o mesmo encantamento. O segredo do Ser.”.

 

Bom Natal.

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