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José Poças

9 de janeiro, 2020

E porque é Natal ….

 

O Natal alimenta-se de raízes que mergulham na nossa infância. Nuno Lobo Antunes, no seu livro Sinto Muito, tem uma passagem lindíssima (que não me canso de repetir) a respeito do Natal. «Naquele tempo … quando o menino Jesus era meu parente, (assim eu o sentia), o mundo girava em torno de uma manjedoura, onde crianças e animais se confundiam no mesmo olhar inocente, no mesmo bafo cálido que aquecia o corpo e a alma… Todos os anos o mesmo mistério, o mesmo encantamento. O segredo do Ser.»

 

Podemos falar de um processo de encantamento do Natal ao longo dos séculos, a começar pela própria liturgia, impregnada de rara beleza poética e simbólica, acompanhada de memoráveis e inesquecíveis cânticos, como o Adeste Fideles, cujo autor foi o nosso rei D. João IV. Ano após ano, de todos os cantos do nosso Portugal, chegam milhares de pessoas a Fátima para celebrar o Deus menino no Santuário de Fátima, neste nosso Altar da Paz.

 

Sendo considerada a Festa de Família, a tradição conta-nos que devemos a São Francisco de Assis a construção do primeiro presépio. Em 1223, em Greccio (Itália), com autorização do papa Honório, encenou ao vivo o nascimento de Jesus, com figuras humanas e animais. Tratou-se, na altura, de uma autêntica revolução na Teologia cristã, já que Cristo deixou de ser representado apenas como Glorioso e passou também, graças a este franciscano, a ser adorado como o Jesus menino, pobre, “nas palhinhas deitado”.

 

O pinheiro só passou a fazer parte das decorações natalícias nos lares cristãos há pouco mais de 100 anos. Quando os missionários adopta­ram o costume da árvore de Natal, escolheram o abe­to, de forma triangular, para representar a Santís­sima Trindade. Ligado à tradição do pinheiro, há uma enternecedora lenda. Conta a história que na noite de Natal, junto ao presépio, se encontravam 3 árvores - uma tama­reira, uma oliveira e um pinheiro. Ao assistirem ao nascimento de Jesus, quiseram oferecer-lhe um pre­sente. A oliveira deu ao menino Jesus as suas azeitonas. A tamareira, logo a seguir, ofereceu-lhe as suas doces tâmaras. Mas o pinheiro, como não tinha nada para oferecer, ficou muito infeliz. As estrelas do céu, vendo a tristeza do pinheiro, que nada tinha para dar ao Menino Je­sus, decidiram descer e pousar sobre os seus galhos, iluminando e adornando o pinheiro que assim se ofereceu ao Menino Jesus.

 

O problema é que o Natal se transformou numa campanha de marketing, subvertido em orgias de consumo. Os interesses económicos irrompem nas nossas casas via televisão, condicionando a verdadeira mensagem desta quadra. Tudo se mede pela quantidade de prendas que se dá e/ou recebe, numa felicidade pronto a vestir, baseada em hipermercados.

 

Privilegia-se cada vez mais a forma em detrimento do conteúdo. Vivemos num tempo em que se esgotou um enorme leque de referências, dadas como estáveis num passado recente. Até os valores familiares vão sendo, constantemente, postos em causa.

 

Apesar de tudo, há sempre uma mensagem renovada de esperança nesta época. No Natal temos tempo para parar e pensar no conjunto das pessoas que se tornaram hóspedes vitalícias no nosso coração. Nesta altura não temos medo das hemorragias da alma, abrimos o caixote das recordações e a gaveta dos afectos. Essas são as verdadeiras prendas de Natal, as que são insubstituíveis. Os nossos corações, cheios de nódoas negras, desconcertados e gastos pelas rotinas e preocupações diárias, neste mundo cada vez mais louco, recuperam a sua verdadeira essência nesta época em que um Menino nasceu para nos salvar. Feliz Natal.

 

 

 

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