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José Poças

5 de agosto, 2022

Os problemas estruturais

Tendo sido filho único nunca pude gozar daquele privilégio extraordinário que têm os que nasceram em famílias numerosas. Quando na infância ou na adolescência as coisas corriam mal, havia sempre a desculpa que tinha sido um dos outros irmãos a partir o jarro de flores ou um vidro da janela a jogar à bola dentro de casa… ou …ou….

Infelizmente os nossos políticos têm este síndroma do irmão. Alguma coisa não correu bem? Há 4 anos, a culpa era do Passos Coelho. Os serviços do Estado funcionam mal, a máquina estatal é pesada? A culpa passou a ser da Covid. Com maioria absoluta, o governo não consegue resolver os problemas dos transportes, da saúde, da educação, do novo aeroporto, etc, etc? O problema é estrutural. E com esta palavrinha mágica desculpa-se, hoje em dia, a ineficácia de quem nos (des)governa.

Fecham as urgências dos hospitais por falta de médicos? Faltam professores? Nomeiam-se comissões que ao fim de muito pensarem (e de gastarem dinheiro do erário público) propõem apenas panaceias, a curto prazo, arrastando para um futuro próximo o agravar destes mesmos problemas. Ou seja, combate-se a doença grave de administração pública com uma simples aspirina.

Quem está há 20 anos no poder (nestes últimos 27 anos), leia-se PS, tem obrigação de fazer muito mais. Num país em que há falta de médicos, falta de professores, baixa natalidade, envelhecimento da população, emigração de jovens licenciados, elevadíssima carga fiscal para famílias e empresas, dívida pública elevada, a pesada burocracia fiscal, justiça morosa, o que se tem feito estruturalmente?

É um retrato amargo de um país que cada vez mais está na cauda da Europa? É! Ainda mais quando o governo não consegue aplicar esse dinheiro no desenvolvimento sustentado mas desvia grande parte da verba para sustentar um Estado cada vez mais pesado e burocrático.

E sim, a culpa do aparecimento de extremismos é da responsabilidade de todos aqueles que nos têm governado, de todos aqueles que têm passado pelo poder e que têm fracassado desde há 48 anos. Os ideais de Abril não se esgotam, nem agora nem então, na liberdade, estendem-se a coisas como o desenvolvimento económico e a justiça social. Que prometeram uma aproximação à Europa que pelos vistos só está ao alcance de quem tem obtido cargos políticos ou de quem emigre para ver valorizada a sua capacidade profissional.

Claro que a culpa não é de quem nos (des)governa, é dos problemas estruturais…

Começa a haver demasiados “portugais” dentro de Portugal. Há demasiadas desigualdades. E uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e pela radicalização. Vamos alimentando partidos populistas, extremistas de direita e de esquerda, sem admitir que quem lhes permite o seu desenvolvimento são as más políticas económicas e sociais de quem nos governa, de quem vai assobiando para o lado, culpando tudo e todos menos os que dispondo de uma maioria absoluta não têm a coragem nem a capacidade de enfrentar os problemas reais do nosso país.

Percebe-se assim porque o Governo opta por “incentivos” e não por políticas. Estas implicam reformas, rupturas com interesses instalados, contestações, impopularidade, efeitos que não são visíveis a curto prazo, continuidade e persistência na concretização de opções.

Mas nada de preocupações. Agosto é mês de férias. Lá para Setembro voltaremos a falar das razões estruturais que nos continuarão a manter na cauda da Europa. Deixo-vos com uma frase escrita em 1886 por Guerra Junqueiro e que explica esta nossa triste sina de portugueses. “Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."

 

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