Chegados ao fim do ano letivo e passadas as épocas de provas e exames nacionais, milhares de adolescentes e jovens entram nas férias de Verão. Contudo, muitos deles queixam-se, ao fim de alguns dias de descanso, de tédio e de estarem cansados de nada terem para fazer. Uma grande parte refugia-se em jogos e mundos virtuais, outros vão a banhos, esturricando ao sol, e alguns iniciam a «peregrinação» dos festivais de música que ocorrem uns atrás dos outros.
No fim de tudo isto, pouco ou nada fica além de noites mal dormidas, excessos em bebidas e outras substâncias, isolamento social e infelicidade.
Penso que o período de férias estivais, dada a sua extensão de quase três meses, poderia ser um tempo extremamente útil para o crescimento pessoal, social e espiritual.
Quanto bem poderia ser feito se fossem organizados campos de férias, se houvesse uma verdadeira formação de animadores e um real programa de voluntariado. Penso que há tempo para tudo e tudo tem o seu tempo. Há tempo para acampar, ir para a praia, participar em festivais e concertos, mas também deve haver tempo para os outros e para construir um mundo mais fraterno e deixar um planeta mais sustentável.
Nos meus tempos de estudante, fiz o curso de animadores juvenis dos Salesianos e depois da Escola de Emaús da Comunidade Emanuel. Tive muitas experiências de voluntariado, como por exemplo, acolhedor no Serviço de Peregrinos e de Informações do Santuário de Fátima, por uma quinzena. Essa experiência foi tão gratificante, que em vez de quinze dias fiquei dois meses consecutivos, ajudando nas visitas guiadas, prestando auxílio no Posto de Socorros e nos Serviços Litúrgicos. Anos mais tarde, integrei mesmo a equipa organizadora do Programa de Voluntariado do Santuário de Fátima, nas férias de Verão, nos tempos idos do Jubileu do Ano 2000, acolhendo dezenas de jovens de todo o mundo que vinham fazer voluntariado para Fátima.
Foram tempos maravilhosos, pois cada grupo era composto por jovens de todas as regiões de Portugal e de outros países e continentes. Até hoje tenho um vasto grupo de amigos e conhecidos em vários pontos do mundo graças a esta experiência.
Os diversos organismos eclesiais e civis deviam propor e promover ações de voluntariado de curta ou média duração (semanas ou quinzenas) em que os jovens pudessem sentir-se úteis à sociedade e aplicar a generosidade que transborda do seu ser. Existem muitos casos de sucesso, mas é preciso mais! Poder-se-iam criar equipas para reabilitar o património; acolher os peregrinos e romeiros nas inúmeras festas e locais de culto; auxiliar nas praias e zonas balneares; promover colónias e campos de férias nas comunidades; e tantas outras coisas que a imaginação e a necessidade suscitem.
Deixo aqui 10 valores cristãos fundamentais no voluntariado:
1. Amor ao próximo — Colocar o outro no centro, como Jesus ensinou, amando incondicionalmente.
2. Serviço — Imitar Cristo que veio para servir, não para ser servido (Mc 10,45).
3. Solidariedade — Sentir junto, partilhar a dor e a alegria do outro.
4. Humildade — Reconhecer que todos somos iguais perante Deus e que ajudar é uma missão, não um privilégio.
5. Generosidade — Doar tempo, talento e recursos sem esperar nada em troca.
6. Compromisso — Ser fiel à causa, com responsabilidade e perseverança.
7. Esperança — Acreditar na transformação das pessoas e do mundo, mesmo diante das dificuldades.
8. Gratidão — Agradecer a Deus e aos irmãos pela oportunidade de servir.
9. Alegria — Encontrar alegria no ato de doar-se e ajudar o próximo.
10.Respeito à dignidade humana — Valorizar cada pessoa como criada à imagem e semelhança de Deus, com direitos e potencialidades únicas.
Os jovens são generosos e voluntariosos. Criemos neles um espírito de alegria e de entusiasmo que possa canalizar a sua energia transformadora da sociedade, criando um mundo melhor.
Sérgio Carvalho