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Cília Seixo

5 de abril, 2019

A responsabilidade pela herança colectiva

Normalmente quando se fala de responsabilidade face às gerações futuras, pensamos nos mais novos e na nossa responsabilidade em educá-los.

Tendemos a esquecer que ao longo da vida, também nós, por mais velhos que sejamos, precisamos de ser (re) educados. Não é por acaso que na década de 90 se começou a falar em “Educação ao longo da vida”.

Temos hoje a perfeita consciência de que aquilo que aprendemos há 20 ou 30 anos não serve nem chega para fazer face às necessidades de hoje. O que faríamos com o comando da televisão, da box, o telemóvel, o computador, o facebook…?

Os instrumentos e a tecnologia desenvolveram-se, o mercado tornou-os atractivos, compramo-los e a seguir são eles que nos impõem a necessidade de aprender e nos “educarmos”. No entanto, se por imposição da tecnologia, nos tornamos tecnologicamente civilizados, continuamos, noutras áreas da vida, tão bárbaros como éramos há 100 anos atrás.

Fomos educados com um enorme sentido de “posse”; falamos do “meu” marido ou da “minha” mulher, o “meu” filho, o “meu” cão, o “meu” relógio, o “meu” terreno, a “minha” casa, o “meu” carro, a “minha” praia…. Se, por um lado, estas referências constantes ao que sinto como “meu” me dá a sensação de pertença, e de identidade, por outro faz-nos sentir “donos” de pessoas, animais, natureza, como se de “coisas” se tratassem.

Fomos também educados a respeitar as “pessoas” porque as vamos reconhecendo como iguais a nós; no entanto, não aprendemos a respeitar “todas” as pessoas de igual modo e muito menos aprendemos a respeitar outros seres vivos, sejam eles animais ou natureza. Discriminamos e maltratamos aqueles a quem não reconhecemos o estatuto de “iguais”.

E daí decorre o racismo, a violência contra as pessoas, a doméstica, nomeadamente, os maus tratos e abandono de animais ou a destruição da natureza. Continuamos, como diz alguém, a ser o maior predador do planeta: matamos a nossa espécie, matamos as outras e destruímos o mundo que nos permite viver.

O estatuto moral de “pessoa” que nos garantiu respeito e direitos perante a lei, não nos garantiu simultaneamente a responsabilidade, o dever, de respeitar e cuidar do que sentimos como “nosso”.

Compramos um animal, cansamo-nos dele e abandonamo-lo numa qualquer estrada ou floresta, longe de casa. Apesar de hoje termos o conhecimento de que os animais aprendem, criam laços afectivos com os donos, sentem e têm dor!

Temos em casa um amontado de electrodomésticos, plásticos, caixotes, lixo que fomos amontoando na garagem, pomos no carro e deixamos na floresta! Apesar de sabermos que isso não se deve fazer. Fomos educados no sentido de garantir os nossos direitos, mas não de cumprir e respeitar os direitos naturais de outros.

Falta-nos essa “educação” do dever, da responsabilidade pelo que nos rodeia. E essa falha hoje é imperdoável: temos a necessidade, os meios, o conhecimento, falta-nos a vontade de mudar! Por isso, a função da nossa geração é também “educar-se” no sentido de se responsabilizar pela “herança” colectiva que recebemos e vamos deixar às próximas gerações!


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