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Alexandre Marto Pereira

1 de abril, 2022

Depois dos tempos maus virão sempre tempos bons

As marcas circulares que se vão agora apagando no alcatrão do Santuário de Fátima são como sombras brancas das memórias de uma pandemia que parece já cá não estar. As marcas serão darão lugar a um piso liso e de esperança, e as memórias serão cobertas inexoravelmente pelo esquecimento.

 

Admito que o esquecimento possa ser algo útil para que a vida de cada um e de todos possa voltar a encontrar uma normalidade. E no entanto, Fátima é a prova viva que não é possível esquecer. Uma pandemia volta sempre, uma guerra volta sempre. O conflito e a doença estavam lá quando Fátima surgiu, estão cá hoje para nos desafiarem.

 

Nesse sentido, a memória é mais útil que o esquecimento, porquanto nos dá a sabedoria de nos sabermos nada perante Deus e a História, mas com o dever de nos erguermos com energia redobrada e com as lições aprendidas de forma a entregarmos às gerações que nos seguem uma cidade melhor – e com memórias.

 

Na vida de um hoteleiro de Fátima estes foram anos que deixarão memórias. Fátima foi o destino mais castigado de todo o país. O número de dormidas caiu 78% em 2020. Em 2021 a quebra em relação ao ano pré-pandémico permanecia grave nos 64%. O país quebrou 63% e 47%, respetivamente. Janeiro de 2022, com a ómicron, confirmou a fragilidade do destino: Portugal teve uma quebra de 34% em relação ao mês homólogo de 2019, Fátima registou uma quebra de 57%.

 

O que pensar agora do futuro?

 

Um pessimista recordará as nuvens de incerteza e de risco que nos acompanham. Novas letras do alfabeto grego. A instabilidade e perceção de insegurança transmitida pela guerra. A inflação (principalmente os custos energéticos) e o fim das viagens baratas. A desglobalização. A virtualização das viagens. O turismo como uma não prioridade política. Pior: a fome e a pobreza, o abandono da espiritualidade e da peregrinação.

 

Mas um otimista acredita na Humanidade, na sua capacidade para vencer a doença, fazer a paz, encontrar soluções e criar riqueza que sirva todos. Um otimista acredita na espiritualidade do Homem.

 

Um otimista acredita que o turismo é uma ferramenta extraordinária para a paz, e que o mundo não regressará a um tempo sem viagens, porque estas se tornaram essenciais à vida de cada vez mais gente. Porque as pessoas querem ver cores de outros países, cheirar novos aromas, saborear comidas diferentes, aprender histórias de outros povos. Querem experimentar, viver. Porque as pessoas procuram uma espiritualidade que já não sentem à sua porta mas que procuram em cada canto do mundo. E virão aqui, ao nosso canto.

 

E mesmo havendo no nosso canto discursos pessimistas, temos uma gente em Fátima que tem os alicerces fortes da esperança no trabalho, na honestidade e na perseverança. Se buscarmos a memória do nosso povo, sabemos que nada foi feito sem esforço, e que depois dos tempos maus virão sempre tempos bons.

 

Por isso nada pode falhar. Amanhã é o tempo da retoma.

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