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José Poças

4 de março, 2022

As previsões de Friedman

George Friedman escreveu em 2010, já lá vão uns bons 12 anos, o livro “Os próximos 100 anos – Uma previsão para o século XXI”. O título do seu capítulo 6 é elucidativo, “Rússia 2020 – A desforra. Permitam-me algumas transcrições das suas previsões:

 

 “A Rússia ao construir gasodutos para alimentar a Europa com gás natural vai colocar a Europa na sua dependência.”  (…) “A reabsorção da Bielorrússia e da Ucrânia dar-se-á nos próximos 5 anos.” (…) “A Rússia irá enfrentar um grupo de países que não se conseguem defender sozinhos e uma aliança da NATO que é apenas eficaz se os Estados Unidos estiverem preparados para usar a força.”

 

Não pode agora a União Europeia dizer que foi apanhada de surpresa. Uma dos maiores autoridades sobre informação e análise geopolítica do mundo previu , há 12 anos o que se poderia passar se a Europa fosse cedendo à chantagem russa. Putin jogou com essa fraqueza e com a dependência do fornecimento do gás natural, nomeadamente à Alemanha.

 

A Europa assobiou para o lado quando os russos minaram a Revolução laranja, apostando numa divisão entre a Ucrânia do Leste, pró-Russia e a Ucrânia Ocidental, pró-europeia. E continuou a assobiar para o lado quando a Crimeia foi ocupada pelos russos. Martim Luther King dizia que “mais grave que o ruído causado pelos homens maus é o silêncio cúmplice dos homens bons que aceitam a resignação do silêncio”.

 

Putin sabe que a fraqueza do seu país são as suas fronteiras europeias. Em 1989 Moscovo encontrava-se a 19200 quilómetros das fronteiras russas com a Europa. Agora a fronteira (com uma Ucrânia livre e pró-ocidental) está apenas a 320 quilómetros de Moscovo, numa planície que foi utilizada por Napoleão e Hitler para invadirem a Rússia.

 

Mas nada justifica, nem pode justificar, esta bárbara agressão a um país soberano, cujo grande defeito é querer a democracia. Há já relatos que o exército russo está a utilizar bombas de fragmentação e de vácuo, que são proibidas pelo direito internacional. E já deixam no ar a possibilidade de utilizarem armamento nuclear.

 

O que está desmoronando é todo um sistema europeu que se propunha tornarmo-nos mais humanos. Agora é preciso coragem para ter esperança. E por isso deixem-me destacar 2 exemplos. Um, o do Papa Francisco que, num gesto sem precedentes, se deslocou (não esqueçamos que é chefe de Estado do Vaticano) à embaixada da Rússia, para expressar a sua preocupação com a crise humanitária desencadeada pela invasão de Putin.

 

Outro exemplo notável é Zelensky, presidente da Ucrânia, que garantiu que se mantém no país, mesmo depois de os Estados Unidos lhe terem oferecido ajuda para o retirar de Kiev. Segundo as suas próprias palavras: "Preciso de munições, não de uma boleia".

 

Este memorial (ver edição impressa de 04 de Março)  da Primeira Grande Guerra em Vácrátót (Hungria) recorda o horror da guerra e homenageia os pais/maridos que tombaram na defesa do seu país. A sua ausência junto da mulher e dos filhos apresenta-nos uma trágica realidade.  Infelizmente a História está a repetir-se. De toda a Europa há emigrantes ucranianos que se voluntariam para ir defender o seu país, mesmo sabendo que vai ser uma luta desproporcionada, de David contra Golias.

 

Uma palavra final para todos os ucranianos que vivem em Portugal. Um abraço solidário neste momento terrível que atravessam. Até porque como dizia Churchill, “não adianta tentar negociar com o tigre quando a nossa cabeça já está dentro da boca dele”.

 

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