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José Poças

10 de setembro, 2022

Esta mania de só gostarmos de lapiseiras

Quando nos anos 60 a NASA iniciou o envio de astronautas para o espaço, uma das preocupações básicas era que as esferográficas não funcionariam devido à gravidade zero, já que a tinta não desceria à superfície onde se desejaria escrever. Ao fim de 6 anos de testes e investigações, que exigiu um gasto de 12 milhões de dólares, conseguiram desenvolver uma esferográfica que funcionava em gravidade zero, debaixo de água, sobre qualquer superfície incluindo vidro e num leque de temperaturas que iam desde abaixo de zero até 300 graus centígrados. A URSS, pelo seu lado, simplesmente descartou as esferográficas e deu uns simples lápis aos seus astronautas, para que pudessem escrever sem problemas. Poupou um investimento de milhões.

 

Porque me lembrei desta história? Porque parece que ninguém ligou nenhuma ao artigo “Faça-se água”, publicado no Expresso de 22 de Julho deste ano. Quem conheça minimamente Israel sabe que um dos seus principais problemas é o da falta de água, até porque o deserto do Neguev ocupa 62% da sua área total.

 

Qual foi a solução para resolver um problema estrutural importante? Uma lei da água adaptada à realidade do país. Para além de envolverem toda a população com campanhas de sensibilização e controle, dessalinizam em larga escala, aproveitando a água do mar. São quilómetros e quilómetros de condutas que atravessam o país, transportando este precioso líquido.

 

Segundo o embaixador de Israel em Portugal, “cerca de 80% de toda a água potável para uso doméstico provém de 5 centrais de processamento e usa-se água salobra na agricultura; Reduzimos as perdas de água no sistema nacional de abastecimento urbano. É das mais baixas do mundo (5% a 8%); Controlamos, rigorosa e continuamente, a qualidade da água; Purificamos e reutilizamos. 95% das águas residuais são purificadas e 87% reutilizadas para a agricultura.”

 

Nesta momento, Portugal, com metade das suas fronteiras com o Oceano Atlântico, tem 66% do país em seca extrema e 34% em seca severa. Reza-se para que chova e, muito possivelmente, como é um problema estruturante, irá ser criada uma comissão que vai reflectir sobre este assunto nos próximos anos. O caricato de tudo isto é que este artigo do Expresso termina relembrando que “Israel tem a experiência e a tecnologia e estamos disponíveis para trabalhar com Portugal”.

 

Numa altura em que temos fundos da União Europeia, em que o dinheiro investido em centrais de dessanilização resolveria grande parte do problema da falta de água, prefere-se assobiar para o lado e subsidiar os amigos do costume, engordando o peso do Estado. Assim sendo, é melhor continuar a lamentarmo-nos e a procurar soluções pontuais, pois claro. A culpa é das mudanças climáticas.

 

Num país em que se noticia a falta de médicos, falta de professores, baixa natalidade, envelhecimento da população, emigração de jovens licenciados, elevadíssima carga fiscal para famílias e empresas, dívida pública elevada, pesada burocracia fiscal, justiça morosa, dificuldade de consensos políticos, talvez seja importante começarmos a olhar para o que se vai fazendo com sucesso noutros países. Até porque de nada vale uma simples lista de 8 supostos benefícios, mesmo que sejam pontualmente aliciantes, se em qualquer momento podem ser retirados por motivos políticos ou financeiros.

 

Um dos problemas mais dramáticos deste país é a facilidade com que se confunde o esforço com a competência. Como dizia e bem João Miguel Tavares, “a competência não se mede em litros de suor, nem em horas de trabalho. Mede-se pela eficácia das acções e pelos resultados que se obtêm.” O problema é que vivemos num país pobre que continua a sonhar com lapiseiras.

 

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