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Miguel Ferreira

16 de novembro, 2023

A zona de conforto não é o inimigo

"Se queremos alcançar resultados, é importante sair da nossa zona de conforto". Esta ideia é muito repetida nos livros de auto-ajuda e discursos motivacionais. Será que é verdade? Será que é preciso desconforto para alcançarmos resultados? E se, ao contrário, a ideia de permanecermos na zona de conforto fosse um divisor de águas, um trampolim para a produtividade e felicidade? Vamos perceber melhor esta hipótese.

De forma simples, instalarmo-nos na zona de conforto é uma estratégia que nos deixa muito à vontade, familiarizados com o ambiente circundante e tarefas. Estarmos no controlo da situação, com um stresse mínimo, onde a produtividade floresce. Não soa muito mal!

Quantas vezes tivemos um bom desempenho sob stress extremo? Muito provavelmente, poucas. O stress inibe a criatividade e dificulta a produtividade. Portanto, não é algo que devamos procurar activamente, ainda que, alguma quantidade de stress, conhecida como eu-stress, possa ser benéfica em certas situações. Nesta perspectiva, a narrativa de que devemos evitar a zona de conforto poderá ser francamente prejudicial.

Quando vimos um atleta profissional em acção, um bailarino, um jogador de futebol, um golfista, entre outros, podemos observar alguns aspectos comuns: comportam-se dentro da sua zona de conforto. Repetem os mesmos passos, movimentos e estratégias, várias vezes, até que isso se torna uma segunda natureza. Desta forma, não estão a sair da sua zona de conforto, e durante os desafios, jogos ou apresentações, confiam no que repetiram e treinaram. Quer isto dizer que, na continuidade dos treinos (zona de conforto), agilizam os processos, tornando-os cada vez mais fáceis e precisos. Podemos, então, concluir que a zona de conforto não é o inimigo. É, antes, o lugar onde adquirimos habilidades, conhecimento e confiança; é um aliado, um amigo que abre caminho para o sucesso sustentável. Em essência, precisamos de parar de ver esta esfera (sem ameaças) como um limite, uma caixa que nos aprisiona, sobretudo, porque à medida que crescemos e aprendemos, a nossa zona de conforto expande-se. Não porque a deixamos, mas porque a tornamos maior.

Não queremos com isto dizer que sair da zona de conforto é mau, especialmente porque tal se revela essencial quando confrontados com circunstâncias imprevistas ou grandes mudanças na vida. No entanto, a narrativa de que devemos estar sempre num estado de desconforto para crescer, ter sucesso e melhorar simplesmente não é equilibrada. O importante é crescer com foco no crescimento, através do conforto, cultivando uma mentalidade que preze pela familiaridade e consistência, em vez do desconforto constante.

Concluindo, o verdadeiro segredo para o crescimento não é saltar de cabeça para um território desconhecido; trata-se de expandir a zona de conforto por dentro que, ao invés do que se possa pensar, é uma zona de maestria e não de estagnação. A vida não é sobre estar desconfortável o tempo todo. É sobre crescer, aprender e aproveitar a jornada. E uma grande parte dessa jornada envolve estar confortável, em paz consigo mesmo e não procurar constantemente o desconforto como termómetro para o crescimento.

Para terminar, aqui fica um pensamento radical: pare de sair da zona de conforto. Em vez disso, comece a expandi-la. Abrace-a e use-a a seu favor.

 

Bem hajam.

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