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Miguel Ferreira

5 de março, 2021

O rei narigudo

Esta história fala do rei Mahendra, que tinha um nariz torto, monstruoso, horrível. No entanto, o mesmo não percebia a enormidade do seu defeito; julgava‑se, ao contrário, um verdadeiro tipo de beleza masculina. Infeliz daquele que gozasse, ou se referisse ao narigão disforme do rei! Colocava a cabeça na forca mais próxima!

Um dia, o monarca disse ao seu ministro: – Quero ter no palácio, um retrato, cuja perfeição e fidelidade todos possam elogiar. O ministro mandou chamar os melhores pintores do país. O prémio ao mais hábil seria magnífico: um elefante, um palácio e uma caixa de jóias.

Apresentaram‑se três habilidosos artistas: Kedar, pintor da corte, Meryem, de origem árabe, e o jovem Fauzi Nalik, um sírio de grande talento. Kedar, dedicado a tela, com os seus ágeis pincéis fez surgir um perfeito retrato do rei; reproduziu o nariz do monarca exactamente como o modelo se lhe apresentava – enorme e monstruoso.

Quando o rei Mahendra ao ver a figura grotesca, nitidamente reproduzida no quadro, ficou furioso:

– Atrevido! Miserável! Fazer de mim semelhante monstrengo! 

E mandou enforcar o pintor. 

Meryem, o segundo artista, ao ver o triste fim do seu companheiro, achou prudente não imitar a escola realista do seu malogrado colega. Isto de pintar os soberanos tal como são sempre deu mau resultado. O pintor árabe retratou o rei, recriando‑o perfeito em todos os seus traços fisionómicos. Uma verdadeira obra de arte. O monarca enfureceu‑se ainda mais ao ver o novo trabalho. O retrato feito por Meryem era belo e em nada se parecia com o original de nariz singularmente feio.

– O Belzebu desse pintor quer gozar comigo! – gritou colérico. – Este retrato não se parece nada comigo! É um autêntico escárnio.

E mandou enforcar o infeliz Meryem.

Finalmente, chegou a vez do jovem Fauzi Nalik, o pintor sírio.

– Estou perdido! – disse ele para os seus botões. – Se pinto o rei de nariz torto, vou para a forca; se lhe endireito a cara, sou enforcado!

E todos na cidade já lhe lamentavam, ao antecipar o seu triste fim.

– No dia em que der o último retoque no retrato do rei, irá direitinho levar o pescoço à forca!

Mas, para espanto geral, tal não aconteceu. O monarca ficou encantado com o trabalho do talentoso Fauzi Nalik. 

– Este, sim – proclamou vaidoso e satisfeito, – este é o meu verdadeiro retrato.

E sem mais demora, mandou que lhe entregassem a prometida e valiosa recompensa: um elefante, um palácio e uma caixa de jóias.

Quando Fauzi Nalik, radiante e feliz, deixou o palácio real, viu‑se rodeado de amigos, que o enchiam de perguntas:

– Então? Como conseguiste o milagre? Pintaste o rei de nariz torto ou sem nariz?

Conta‑nos a proeza.

– Pois é! – respondeu o inteligente pintor.

– Pintei o rei exactamente como ele é, mas num contexto a caçar tigres, e a arma que levava ao rosto tapava‑lhe perfeitamente o nariz grotesco e monstruoso!

E, ao afastar‑se, risonho, acrescentou:

– Se o defeito do rei Mahendra, ao invés de ser no nariz, fosse nas pernas, tê‑lo‑ia
pintado a banhar‑se num lago com água até a cintura.

Bem hajam.

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