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Tomé Vieira

23 de janeiro, 2020

Vogando…

A comunidade emigrante na Suíça está fortemente implementada, tornando este país um dos que apresentam um maior número de emigrantes residentes, cerca de 25% da população. Entre esta Babel de etnias, credos e proveniências, os quase 270.000 portugueses destacam-se como a terceira maior comunidade, apenas ultrapassados por italianos e alemães. Só na grande Lausanne vivem cerca de 50.000 portugueses, a que se juntam outras comunidades lusófonas (brasileira, angolana e cabo-verdiana), tornando o português uma das línguas mais faladas localmente. Entre os idiomas que mais ouço na rua, destacam-se três: francês, por razões óbvias, assim como português e espanhol, este último devido às várias comunidades hispânicas de origem sul-americana.

Não surpreende, por isso, a possibilidade de se conhecer pessoas incríveis e histórias extraordinárias, exemplos do quão surpreendente e preciosa é a vida e de como a devemos saber apreciar. Referirei apenas um caso, a título de exemplo. Trata-se de uma senhora com uma história de vida que daria um excelente guião cinematográfico, como acontece muitas vezes com os portugueses andarilhos. Descendente de uma família aristocrata, seria herdeira de marqueses se Portugal ainda fosse uma monarquia. Acontece que as vicissitudes da vida a levaram a personificar Fénix por diversas vezes ao longo dos anos. Criada numa fazenda africana, onde pôde beneficiar de uma infância privilegiada, quando Portugal vivia o ocaso do sonho imperial, foi obrigada cedo demais a testemunhar na pele os horrores da guerra colonial. Capturada ainda muito nova, viu-se cativa durante largas semanas. Só uma jovem muito forte poderia sobreviver a tudo aquilo que foi sujeita antes de ser libertada. Mais tarde, viveu a contingência de ter de mudar de casa, país e continente, engrossando as fileiras de retornados num dos momentos mais impressionantes da nossa história recente. Para trás, além do património familiar, ficava algo mais precioso, os sonhos de uma vida estável e feliz. O recomeço na metrópole, entre muitos sacrifícios, trouxe alguns anos de tréguas, com sucessos a nível pessoal, profissional e social. A sua família vivia o conforto financeiro de uma empresa imobiliária. O seu lado solidário levou-a também a criar uma IPSS que ainda hoje mantém, prestando apoio a crianças e jovens em risco. A bonança, no entanto, terminou ao fim de alguns anos, pois o desgoverno do marido, num perigoso cocktail feito de amante, casino e jogo, provocou o rápido desbarato do pecúlio familiar. Perante esta nova hecatombe, tendo já os filhos criados, decidiu emigrar para a Suíça e desafiar mais uma vez o destino madrasto, desta vez sozinha. O início foi difícil, tendo feito o périplo de tantos portugueses por terras helvéticas. Começou como empregada de limpeza e mais tarde conseguiu emprego numa pastelaria. Aí fez um pouco de tudo, até por fim se tornar cake designer. Neste momento é a nova proprietária do negócio, fazendo as delícias das melhores festas locais. 

Este é apenas o exemplo de uma pessoa que fez da resiliência a sua melhor arma e do futuro o seu enfoque.

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