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Tomé Vieira

3 de fevereiro, 2023

Vogando…

No último trimestre do ano passado, uma quebra momentânea de trabalho na secção da empresa onde estou exigiu um rápido ajuste na planificação das equipas operacionais. Os trabalhadores temporários foram dispensados até nova oportunidade e aqueles que possuíam contrato fixo tiveram diferentes abordagens: uns continuaram a trabalhar normalmente as encomendas existentes, outros foram deslocalizados temporariamente para um departamento diferente da empresa, alguns foram convidados a usufruir do tempo de férias que ainda tinham para gozar e uns quantos ficaram pura e simplesmente em casa até ordem em contrário, mas sempre com o salário assegurado.

 

Sendo um dos felizardos que foram deslocalizados, vivi a oportunidade de aprender novas funções, algo que me estimula sempre o fervilhar da descoberta mais própria da juventude. Assim, durante cerca de um mês viajei entre Lausanne e Genève na companhia de três colegas do outro departamento. Como a viagem durava cerca de uma hora, tinha duas horas diárias para conhecer melhor aquelas pessoas que me acompanhavam, um francês, um kosovar e um turco. Tivemos conversas muito interessantes sobre os mais variados temas, desde a gastronomia aos usos e costumes, passando pelo lazer e pela literatura (neste caso mais com o turco, um jovem que revelou uma cultura geral interessante), entre tantos outros.

 

Isto é um exemplo paradigmático de dois aspetos fulcrais na Suíça: por um lado, a versatilidade do mercado de trabalho, que se adapta com uma agilidade impressionante à volatilidade da economia globalizada; por outro, a sua face cosmopolita, onde uma miríade assombrosa de diferentes nacionalidades dão o seu melhor, sabendo que a competência e o mérito por norma prevalecem em qualquer circunstância.

 

Não é por acaso que o estudo que durou mais de uma década a concluir, levado a cabo pelo Índice Global de Inovação, considerou há poucos meses a Suíça como o país mais inovador do mundo. Repare‑se que estamos a falar de uma nação mais pequena que Portugal, tanto a nível territorial como no aspeto demográfico. Isto leva‑me a outra das forças motrizes daquele país, o Ensino e a sua forte ligação ao mundo empresarial. De facto, as crianças e os jovens são apoiados incondicionalmente desde o berço, beneficiando de uma educação integral que privilegia o respeito pelas diferenças, ao mesmo tempo que promove a responsabilidade, o espírito colaborativo e a autonomia. A escolaridade obrigatória termina aos 16 anos, mas os jovens que não pretendem continuar a estudar são estimulados a tirar um curso profissional remunerado, em contexto laboral, o que resulta numa preparação técnica e específica muito grande, que é aproveitada por praticamente todas as empresas existentes. Aliás, isto é apenas um dos exemplos que mostram como a aposta suíça nas micro, pequenas e médias empresas, extremamente competitivas, é acertada, pois estas aproveitam ao máximo o potencial da formação específica, aliada à mais‑valia que a juventude pode sempre representar, em colaboração com a experiência dos veteranos.

 

Quanto àqueles que optam por prosseguir estudos, a oferta de Escolas Politécnicas e Universidades é grande em número e mais ainda em qualidade. Só a título de exemplo, lembro o Instituto Federal de Zurique, a universidade onde se formou Albert Einstein. Com cerca de 10000 alunos distribuídos por 112 nacionalidades, mais de metade são doutorandos.

 

A Suíça há muito que deixou de ser apenas o país dos relógios, dos chocolates e dos banqueiros. Com esta forte aposta num ensino diversificado e na iniciativa privada, tornou‑se um dos países mais ricos do mundo, mostrando‑se desta forma muito mais resiliente às inevitáveis crises cíclicas que assolam o mundo.

 

Desculpar‑me‑ão este desabafo final, que à primeira vista pode parecer dissonante em relação ao que escrevi acima, mas que, pelo contrário, está intimamente ligado ao cerne do que foi abordado. Quero expressar a minha inteira solidariedade com todos aqueles que têm juntado as suas vozes para protestar contra o estado lastimável a que Portugal está a ser levado por quem o governa. O país não pode cometer o erro de desmerecer desta forma os seus profissionais do Ensino, como já antes desmerecera os da Saúde e os das Forças de Segurança. Atente‑se que estamos a falar de três pilares fundamentais de qualquer nação, cuja deterioração pode perigar não só o seu normal funcionamento, como está a acontecer, mas acima de tudo o seu futuro a médio e longo prazo

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